Ativação

No dia 4 de setembro de 2021 a artista Daniele Zacarão ativou a X-Plorer + Parasite Vírus em duas ocasiões, a primeira ativação aconteceu no Centro Cultural Jorge Zanatta e a segunda ativação aconteceu no Parque Natural Municipal Morro do Céu, lugares situados na cidade e Criciúma, Santa Catarina. Na associação da X-plorer + Parasite Vírus comecei a pensar em possíveis participantes para ativar esse dispositivo. Nessa reflexão me veio a mente chamar a artista Daniele Zacarão. Comecei a pensar em uma possível afetividade por parte do participante e talvez em um local afetivo.

A intenção é em breve poder disponibilizar a X-Plorer + Parasite Vírus a outros artistas e demais interessados nessa experimentação, pensando em locais afetivos.

CENTRO CULTURAL JORGE ZANATTA

Ao ser questionada sobre um possível local afetivo da artista Daniele Zacarão ao qual gostaria de ativar a obra X-Plorer + Parasite Vírus a artista sugeriu o Centro Cultural Jorge Zanatta. Para mim foi uma grata surpresa essa sugestão, em um primeiro momento não imaginava que ela fosse escolher esse lugar.

O Centro Cultural Jorge Zanatta é um local que evoca muitas memórias, seja pela utilidade primeira do imovel quando inaugurado em 1940 abrigando o Departamento Nacional de Produção Mineral, conhecido na época como DNPM. Posteriormente em 1964 foi utilizado como prisão no primeiro ano do regime militar. E somente em 1993 o município de Criciúma assumiu a propriedade do imóvel instalando ali a Fundação Cultural de Criciúma (FCC) e fundando assim o Centro Cultural Jorge Zanatta. O Centro Cultural Jorge Zanatta é um complexo que abriga a administração da FCC, uma galeria de arte, diversas oficinas culturais e um galpão de artes com apresentações artísticas.

A FCC fica no centro do município de Criciúma, um local estratégico dentro da cidade onde abriga um jardim em meio a empreendimentos imobiliários modernos, não diferente de hoje que a cultura perde cada vez mais espaço, a existência da Fundação Cultural em si já é um ato de resistência, visto que a cidade carece de espaços expositivos ativos. No ano de 2012 a FCC precisou ser fechada pela necessidade de cuidados com a sua estrutura visto que não era possível uma reforma e sim era necessário um restauro, preservando a história e existência do espaço. Em 10 de setembro de 2017 durante esse período que permaneceu fechada o Centro Cultural Jorge Zanatta pegou fogo em um dos seus galpões em que se conservavam parte de amostras de carvão da época do DNPM, o incêndio destruiu parte das estruturas e salas da Fundação Cultural. O incêndio também destruiu a sala do antigo almoxarifado, onde estavam arquivos históricos da Galeria de Arte e Oficinas de Artes.

Centro Cultural Jorge Zanatta que abriga a Fundação Cultural de Criciúma, 2017 fonte: https://www.4oito.com.br/noticia/jorge-zanatta-o-resultado-do-incendio-578

Por uma infeliz coincidência nessa época muitos espaços culturais sofreram incêndios como Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro, Museu da Língua Portuguesa, evidenciando o descaso com a cultura no país. No ano seguinte ao incêndio a FCC passou por 10 meses de reforma. Em dezembro de 2018 a FCC após restauração voltou a suas atividades e hoje se encontra em pleno funcionamento. A reforma só aconteceu pela intervenção do Ministério Público e manifestações da Ocupação Salve Jorge!

Centro Cultural Jorge Zanatta que abriga a Fundação Cultural de Criciúma, 2019

Falo aqui com tanta propriedade da FCC devido a minha relação afetiva com esse local, onde trabalhei e apresentei muitas das minhas produções em exposições coletivas a exemplo da obra Parasite Vírus. Curiosamente A FCC preserva parte da vegetação da região em seu jardim, um ponto verde em meio a cidade.

O interesse de execução da obra em um local afetivo surge da possibilidade de ampliar a percepção já existente naquele lugar, expandir os sentidos para outros olhares possíveis nesse lugar de afeição. O interesse também nesse lugar se estabelece sobre a possibilidade de compartilhar essa afeição através da emulação da experiência estabelecida pela X-plorer + Parasite Vírus com outros participantes interessados na ação. Tendo em vista essa relação afetiva com a artista Daniele Zacarão e o Centro Cultural Jorge Zanatta uma outra rede se tornou possível estabelecer nessa prática artística, no caso refletindo sobre a coleta e tratamento de dados provenientes da X-plorer + Parasite Vírus de forma online, remota no Rio de Janeiro, disponibilizando assim a utilização desses dados em um outros dispositivos.

Ativação da X-plorer + Parasite Vírus no Centro Cultural Jorge Zanatta. Criciúma 4 de setembro de 2021

PARQUE NATURAL MUNICIPAL MORRO DO CÉU

Outro lugar mas desta vez por uma afetividade por parte do pesquisador, foi sugerido a Daniele Zacarão a ativação da X-plorer no Parque Natural Municipal do Morro do Céu. O Parque Natural Municipal do Morro do Céu, fez parte da minha adolescência. Entre 2001 e 2008 eu morei muito próximo a uma das entradas do Morro do Céu, logo ali era um local que frequentava aos finais de semana, um lugar onde eu fazia trilhas a pé e tinha uma prática ativa de mountain bike (downhill) através das trilhas que ali existem. Muitas lembranças desse tempo se fazem presente na minha vivência porém hoje o Morro do Céu se encontra em risco devido a revogação da Lei Municipal n.º 5.207, de 2008, que cria o Parque Natural Municipal do Morro do Céu, sendo assim, a revogação da lei possibilitaria a eventuais donos de terrenos em torno do parque retomarem parte da reserva ambiental, ameaçando assim o Parque Municipal. Decidi fazer essa ação no Parque Natural Municipal do Morro do Céu tanto por essa relação que tenho de vivência nesse local como para dar voz a esse momento de risco de degradação do Parque Municipal que a algum tempo vem passando por processos de restauração e reflorestamento.

Ativação da X-plorer + Parasite Vírus no Centro Cultural Jorge Zanatta. Criciúma 4 de setembro de 2021

Cabe ressaltar que ambos os espaços citados, o Centro Cultural Jorge Zanatta e o Parque Natural Municipal Morro do Céu são dois espaços de resistência, ambos os espaços foram abandonados, ambos mobilizaram movimentos de defesa. Espaços de resistência tanto da cultura quanto da natureza na cidade de Criciúma.

No ano de 2014 me mudei para o Rio de Janeiro, porém mantenho um vínculo com Santa Catarina pois grande parte da minha família reside nas cidades de Laguna e Criciúma. Ao menos uma vez ao ano retorno a ambas cidades para visitar familiares e dialogar com amigos e artistas, além de visitar locais que tenho alguma lembrança.

As ativações estabelecidas levantam outras questões que fazem parte da pesquisa, por exemplo, como se dá a afetividade do participante da proposição com a obra? Pode-se ter uma experiência de expansão sensível sem estar ligado afetivamente com o local? Que outros olhares são possíveis através desse dispositivo?

Tais indagações estão presentes em um questionário elaborado para oparticipante dessa ativação, cabendo a ela compartilhar um pouco dessa experiência. Afim de manter uma neutralidade e procurando não influenciar sobre a descoberta do funcionamento desse dispositivo, a participante no caso a Daniele Zacarão não vai saber sobre o funcionamento fino desse dispositivo, ela em um primeiro momento não vai saber que a cada pulsar da explorer é um envio de dados a rede, cabendo assim a ela uma afinidade, uma aproximação e descoberta desse vestível com o seu corpo e o lugar afetivo da ativação.

Ativação da X-plorer + Parasite Vírus no Parque Natural Municipal Morro do Céu. Criciúma 4 de setembro de 2021