X-plorer

Mochila de auxílio ao explorador

Skecth X-plorerPrimeiro Sketch da X-plorer, 2018

Na ficção científica encontramos muitas fabulações em torno do corpo associado com a tecnologia, seja essa associação dentro ou fora do corpo. O interesse por dispositivos eletrônicos que nos proporcione certo tipo de conexão demodo geral cresceu vertiginosamente nos últimos anos, são os óculos de realidade virtual, os smartwatch que são mais que um simples relógio, monitores cardíacos que geralmente estão associados como um dispositivo de uso esportivo e hoje se encontram no uso cotidiano, sem mencionar o celular, esse dispositivo que é constantemente atualizado todos os anos apresentando novas formas de conexão e entretenimento.

Todos esses dispositivos estão a certo modo relacionados a conexão, estamos constantemente conectados a um fluxo de informação que nos faz refletir sobre o imediatismo. Qualquer informação chega de imediato, estamos constantemente conectados recebendo e enviando informações nesse fluxo constante. Com a intenção de estabelecer um outro tipo de conexão, uma conexão diferente daquela ao qual estamos habituados pelo aceleracionismo dos nossos dias, das redes, procuro estabelecer um outro uso da tecnologia, subverter sua funcionalidade para refletir sobre uma outra possibilidade de conexão.

X-plorer HipeorganicosHipeorgânicos 8

Logo comecei a refletir sobre vestíveis, pensando em dispositivos que podem ser acoplados ao corpo questionando o uso da tecnologia procurando estabelecer uma conexão mais sensível. Em 2018 fui convidado à participar do evento Hiperorganicos 8, realizado pelo NANO31, que aconteceu em dois lugares distintos, no Museu de Astronomia e Ciências Afins e no Museu do Amanhã, ambas instituições situadas no Rio de Janeiro.

Em um primeiro momento o evento aconteceu no Museu de Astronomia e Ciências Afins com um simposium e algumas produções de artistas convidados. Em uma segunda ocasião no Museu do Amanhã participei do OpenLab, um laboratório aberto com diversos artistas e pesquisadores, um ambiente propício para trocas e para pensar a produção em um outro lugar fora do lugar de reflexão do cotidiano, fora do atelier pessoal de cada artista. Um ambiente muito prazeroso onde existe um fluxo de pessoas, tanto artistas, pesquisadores e o público visitante do evento.

Para a ocasião inspirado sobre o Ancestrofuturismo, conceito que foi tema do evento e que foi desenvolvido pela pesquisadora Fabiane M. Borges no texto ANCESTROFUTURISMO – Cosmogonia livre & Rituais faça você mesmo, me interessei em um vestível sensível, um dispositivo que pudesse servir como um auxiliar aos futuros exploradores, como explorar futuros possíveis, mundos possíveis, como poderíamos estar mais sensíveis às recentes transformações que acontecem ao nosso redor.

Open Lab Museu do AmanhãFoto no Open Lab no Museu do Amanhã

Pensando nessas transformações iniciei o desenvolvimento da obra X-Plorer mochila de auxílio ao explorador onde imaginei a seguinte ficção “Assim como os antigos viajantes os exploradores contemporâneos se utilizam de técnicas e aparatos afim de descobrir e desbravar horizontes. Esses pesquisadores devem estar aptos para as adversidades que poderão encontrar, como mudança de temperatura, terremotos, enchentes, chuvas torrenciais, fenômenos esses que estão se tornando cada vez mais imprevisíveis. Além disso devem estar preparados para superar obstáculos em qualquer tipo de território ou ambiente, nesse planeta ou até mesmo fora da Terra. Desse modo, a amplificação dos sentidos de percepção do ambiente poderá auxiliá-los a enfrentar o que está por vir.”

X-plorer Open Lab Museu do AmanhãFoto no Open Lab no Museu do Amanhã

Dentre os acessórios básicos e imprescindíveis para todo viajante a mochila é um dos mais importantes, pois é onde o explorador carrega equipamentos, utensílios e mantimentos necessários à sua sobrevivência. Não é possível definir com exatidão quando surgiram as primeiras mochilas, mas a mais antiga é provável que seja a do homem de gelo Ӧtzi35, uma múmia de 3300 a.C. da idade do cobre que foi encontrada em 1991 por dois turistas italianos. Entre os artefatos encontrados com essa múmia foram encontrados vestígios de uma mochila feita de pele de animal, madeira e barbante. Com o decorrer dos anos a mochila foi evoluindo gradativamente, seja para o seu uso no dia-a-dia, na vida acadêmica, ações militares, caminhadas e exploração.

A mochila faz parte da produção de alguns artistas ao longo da história seja utilizando como repositório de equipamento a exemplo de Gustave Coubert, ou a mochila como um objeto poético a exemplo da ação da artista Brígida Baltar em A coleta da neblina.

X-plorer Open Lab Museu do AmanhãBonjour Monsieur Courbet, pintura do artista Gustave Courbet, 1854, óleo sobre tela.

Outro item de um explorador é o bastão ou cajado que dá apoio nas caminhadas. Considerando que a humanidade desenvolve ferramentas que auxiliam na realização de inúmeras e diferentes atividades e que praticamente todos esses mecanismos passam por alguma alteração evolutiva ao longo de seu uso, proponho a hibridização desses dois objetos, para além das suas usuais funcionalidades.

X-plorer Open Lab Museu do AmanhãX-plorer, Mochila de auxílio ao explorador Hipeorgânicos 8, 2018

A X-Plorer - Mochila de auxílio ao explorador surgiu da ideia de criar um assistente de caminhada, no caso uma mochila, que possa auxiliar o explorador nos mais diversos ambientes funcionando como auxiliar ou mesmo um sistema de navegação. A prótese captura dados ambientais em tempo real como umidade do ar, temperatura, pressão do ar e conta com um sensor de presença que captura dados ao redor da mochila, esses dados são coletados e apresentados ao explorador através de estímulos visuais. Ao longo da pesquisa a mochila contará com outros dados como sensor de gases tóxicos, GPS, mas a principal alteração focará em como capturar os dados e utilizá-los a fim de ampliar o nosso repertório de sentidos, estabelecer outras formas de percepção com a natureza a fim de criar um outro tipo de conexão. O processo dialoga com o aspecto fabular da ficção científica, onde dado momento se torna ferramenta para questionar o mundo ao qual vivemos.